Gente a histórinha parece que está terminadaaaa...
Valeu Teloniusssss
I ATO
Praça no centro da cidade, o povo passa e se apressa a passo de formiga. Ao fundo, pelas janelas, O PINTOR apronta tela e tintas enquanto caça com os olhos qualquer coisa que merecesse ser pintada.
Sua vista aponta para a moça que desponta, LAVADEIRA atarefada e indiferente ao mendigo que lhe oferece um sorriso todo meio sem dente.
É um SENHOR que mora lá na Lua, mas tava de passagem pela praça, cuidando de seus negócios de vento e catavento.
Mais prá adiante um RETIRANTE dedilha uma tristeza na viola, chapéu na cara e um sorriso rabiscado no queixo.
Logo ao lado, um VELHINHO cola cartazes com todo cuidado assobiando uma canção alegre. Vez ou outra estende a voz até a NETA que saltita em seu redor, distraída a pisar em folhas secas.
Outro assobio complementa a sinfonia. É um ENCANTA-REALEJO, uma dessas aves mágicas que tem o poder de mudar a sorte das pessoas. Contudo aquele passarinho era obrigado a roubar a sorte de todos, vítima de um encantamento que o aprisionou.
Seu senhor era TEOTÔNIO um realejeiro que tirava a sorte dos outros para si com os bilhetinhos de seu realejo.
Enquanto seus olhos procuravam na praça uma pessoa cheia de sorte para ele tirar, sua mente divagava por memórias de um tempo muito mais feliz.
O PINTOR abre um sorriso.
TEOTÔNIO fora um artista de circo, que vivia para alegrar as pessoas.
Era palhaço, um grande equilibrista e havia aprendido as artes circenses com um atirador de facas que lhe adotou como assistente depois que sua mulher ficou grávida e não podia mais lhe ajudar.
No devido tempo, veio ao mundo uma linda menina que ganhou o nome de Alice.
E assim os quatro viveram dias felizes como uma família naquele circo viajante.
Um dia, porém, as risadas deram lugar a gritos de socorro; o fogo veio e de uma só vez destruiu o circo e o pouco que o pobre palhaço possuía.
Amargurado, TEOTÔNIO decidiu então tomar de volta toda a alegria que havia dado aos outros, e para isso capturou o ENCANTA-REALEJO que pertencia ao seu mestre atirador de facas e o aprisionou dentro do realejo.
Desde então, ele vaga pelo mundo tirando a sorte de quem lhe der duas moedas em troca de um bilhete da fortuna.
Assim TEOTÔNIO viajou muito, até que um dia chegou a uma praça e reparou em uma menina muito especial que por ali passava. Pensando em roubar sua sorte, o realejeiro manda o ENCANTA-REALEJO até ela.
ALICE cantarolava em seu quarto quando o pássaro pousa na janela fazendo um convite. Curiosa, ALICE segue o ENCANTA-REALEJO até TEOTÔNIO e pede que ele tire a sua sorte. No momento exato em que a menina ia pegar seu bilhete, o pássaro segura o papel no bico e o bilhete se rasga, ficando uma metade com Alice e outra no bico da ave.
TEOTÔNIO fica intrigado com isso e resolve perguntar para ALICE qual o seu nome. Os dois começam a conversar, o papo cria pernas e os dois passam muito tempo juntos falando e brincando. A noite vem vindo, mas de tão distraída ALICE não ouve a voz de seu Avô chamando e acaba adormecendo na relva da praça.
No outro dia, ela acorda na grama sozinha e se entristece em ver que TEOTÔNIO havia partido, Ela volta para casa e se põe a pensar:
“terá sido um sonho?”
O bilhete da sorte rasgado em seu bolso dizia que não.
II ATO
Restaurante decadente do Centrão, vulgo taberna.
TEOTÔNIO vai mal, toda a sorte que ele havia roubado das pessoas se perdera no instante em que o bilhete de ALICE se rompeu; além disso lhe acompanhava uma estranha saudade dela.
Desconhecido e sem conhecidos na cidade, ele vai afogar suas mágoas em um boteco se perguntando se deveria ou não voltar para vê-la.
Lá para as três e tantas da madrugada ele se vê conversando com o mendigo LUNÁTICO que não se conforma com a situação e fala um punhado de verdades para TEOTÔNIO. Embriagado e confuso, o realejeiro se descontrola e entra em luta corporal com o LUNÁTICO, mas acaba estatelado no chão com a cabeça latejando e o teto dando piruetas na sua cara.
Finalmente expulso do bar, todo destrambelhado e arrastando seu realejo, ele toma uma decisão:
“Vou encontrar Alice, nem que tenha que descer ao mundo dos mortos!”
(treta ALICE e AVÔ, ela decide encontrar TEOTÔNIO)
No sertão árido, Alice está sentada em uma pedra, contemplando a encruzilhada à sua frente sem saber para onde ir.
O som de uma viola vem lhe acariciar os ouvidos, vindo não se sabe da onde. Encantada com aquele som que diminui a sua angústia, ela nem se dá conta do VIOLEIRO que vem se aproximando.
Eles começam a conversar e o Violeiro lhe conta muitas estórias; vendo que ele é um homem muito sabido, Alice pergunta que caminho deve tomar.
Ele só consente em, responder caso ela lhe dê algo em troca.
Alice se desculpa dizendo:
“A única coisa que tenho é esse bilhetinho da sorte, mas isso eu não posso te dar.”
O Violeiro, muito esperto, retruca:
“Não tem problema, como gostei de você vou fazer uma concessão. Te indico o caminho certo e você me dá só a sua alma, feito?”
“Feito”
Os dois adormecem e quando Alice acorda, nota que o violeiro se foi, mas deixou a viola como um presente para ela.
Alice caminha por vários dias, e vê muitas coisas até que chega a uma floresta enorme, onde encontra um rio que ela não consegue atravessar.
Uma mulher cavalgando uma canoa se aproxima. É a JANGADEIRA que explica que aquele rio se chama Aqueronte e que pode lhe dar carona se ela lhe der algo em troca.
Alice se desculpa dizendo:
“A única coisa que tenho são essas moedas e meu bilhetinho da sorte, mas isso eu não posso te dar.”
A Jangadeira aceita as moedas e as duas seguem rio abaixo, quando de repente a água do rio se torna vermelha e agitada, tingida pelo sangue dos animais que os homens assassinam nos matadouros.
Depois de muito lutar contra as correntezas, a jangada segue seu rumo.
III ATO
O mundo dos espíritos.
Alice está assustada e tristonha com as coisas que viu ao longo da viagem e na descida do rio Aqueronte, na companhia da misteriosa Jangadeira.
Entre as lágrimas que embaçam sua vista, Alice consegue distinguir a silhueta de uma mulher que lava roupa suja na margem do rio, pouco adiante.
Jangada e Jangadeira deixam Alice em terra e seguem seu caminho enquanto a menina vai à LAVADEIRA e pergunta a ela qual o destino final de sua jornada.
A sábia mulher retruca dizendo que só dirá se Alice lhe der algo em troca.
“A única coisa que tenho é esse bilhetinho da sorte e isso eu não posso te dar, mas posso cantar uma canção prá você.”
A Lavadeira aceita o trato e Alice se põe a cantar uma melodia.
Aos poucos a Lavadeira se deixa levar bela beleza daquela música e junta sua voz à da menina.
A canção ecoa pelas planícies e montes, trazendo conforto e tranqüilidade ao coração de Alice e de todos aqueles que podem ouví-la.
Até as nuvens do céu se aproximam para escutar melhor e contribuem com raios e trovões à cantoria.
Mais além, na margem oposta daquele mesmo rio, Teotônio se prostra exausto na areia e vê a forte tempestade que se anuncia no céu. Cansado demais para procurar abrigo, ele espera a chegada da chuva resignado quando percebe um ANJO que se aproxima dele trazendo consolo e palavras reconfortantes.
O dois adormecem e sonham na areia, protegidos da tempestade por uma brisa mágica que paira sobre eles aparando as gotas da chuva.
Ao acordar de um longo sono que pareceu durar séculos, Teotônio se vê ainda na areia, mas na outra margem do rio Aqueronte, e de lá consegue escutar a voz e o canto de Alice, que atrai todos os seres da floresta com sua melodia.
O Realejeiro segue aquele som e se depara com uma grande festa, onde todos comemoram a chegada da chuva que apagou o incêndio nas matas, limpou a água do rio e a alma dos homens.
Todos os habitantes da selva cantam e dançam, convidando Teotônio para se unir à celebração. Ele então tenta tocar seu realejo, mas o PASSARIN, triste por viver sempre preso, já não pode mais cantar.
Percebendo isso Teotônio escancara a gaiola e une sua voz à do pássaro, que agora entoa sua cantiga como nunca.
Depois de muito celebrarem com os seres da floresta, Teotônio, Alice e a Lavadeira assistem à alvorada de um novo dia.
De tanto contentamento por reencontrar Teotônio, Alice se esquecera de cobrar da Lavadeira sua promessa de contar aonde terminaria seu caminho, mas a velha sábia manteve sua palavra e abriu um largo sorriso dizendo:
“Não importa para onde você está indo, pois todos vão ao mesmo lugar. Um lugar aonde só as virtudes mais preciosas tem valor verdadeiro. O mais importante não é o destino, mas a maneira pela qual você percorre sua travessia.”
O AUTO DO REALEJO ENCANTADO
I ATO
Praça no centro da cidade, o povo passa e se apressa a passo de formiga. Ao fundo, pelas janelas, O PINTOR apronta tela e tintas enquanto caça com os olhos qualquer coisa que merecesse ser pintada.
Sua vista aponta para a moça que desponta, LAVADEIRA atarefada e indiferente ao mendigo que lhe oferece um sorriso todo meio sem dente.
É um SENHOR que mora lá na Lua, mas tava de passagem pela praça, cuidando de seus negócios de vento e catavento.
Mais prá adiante um RETIRANTE dedilha uma tristeza na viola, chapéu na cara e um sorriso rabiscado no queixo.
Logo ao lado, um VELHINHO cola cartazes com todo cuidado assobiando uma canção alegre. Vez ou outra estende a voz até a NETA que saltita em seu redor, distraída a pisar em folhas secas.
Outro assobio complementa a sinfonia. É um ENCANTA-REALEJO, uma dessas aves mágicas que tem o poder de mudar a sorte das pessoas. Contudo aquele passarinho era obrigado a roubar a sorte de todos, vítima de um encantamento que o aprisionou.
Seu senhor era TEOTÔNIO um realejeiro que tirava a sorte dos outros para si com os bilhetinhos de seu realejo.
Enquanto seus olhos procuravam na praça uma pessoa cheia de sorte para ele tirar, sua mente divagava por memórias de um tempo muito mais feliz.
O PINTOR abre um sorriso.
TEOTÔNIO fora um artista de circo, que vivia para alegrar as pessoas.
Era palhaço, um grande equilibrista e havia aprendido as artes circenses com um atirador de facas que lhe adotou como assistente depois que sua mulher ficou grávida e não podia mais lhe ajudar.
No devido tempo, veio ao mundo uma linda menina que ganhou o nome de Alice.
E assim os quatro viveram dias felizes como uma família naquele circo viajante.
Um dia, porém, as risadas deram lugar a gritos de socorro; o fogo veio e de uma só vez destruiu o circo e o pouco que o pobre palhaço possuía.
Amargurado, TEOTÔNIO decidiu então tomar de volta toda a alegria que havia dado aos outros, e para isso capturou o ENCANTA-REALEJO que pertencia ao seu mestre atirador de facas e o aprisionou dentro do realejo.
Desde então, ele vaga pelo mundo tirando a sorte de quem lhe der duas moedas em troca de um bilhete da fortuna.
Assim TEOTÔNIO viajou muito, até que um dia chegou a uma praça e reparou em uma menina muito especial que por ali passava. Pensando em roubar sua sorte, o realejeiro manda o ENCANTA-REALEJO até ela.
ALICE cantarolava em seu quarto quando o pássaro pousa na janela fazendo um convite. Curiosa, ALICE segue o ENCANTA-REALEJO até TEOTÔNIO e pede que ele tire a sua sorte. No momento exato em que a menina ia pegar seu bilhete, o pássaro segura o papel no bico e o bilhete se rasga, ficando uma metade com Alice e outra no bico da ave.
TEOTÔNIO fica intrigado com isso e resolve perguntar para ALICE qual o seu nome. Os dois começam a conversar, o papo cria pernas e os dois passam muito tempo juntos falando e brincando. A noite vem vindo, mas de tão distraída ALICE não ouve a voz de seu Avô chamando e acaba adormecendo na relva da praça.
No outro dia, ela acorda na grama sozinha e se entristece em ver que TEOTÔNIO havia partido, Ela volta para casa e se põe a pensar:
“terá sido um sonho?”
O bilhete da sorte rasgado em seu bolso dizia que não.
II ATO
Restaurante decadente do Centrão, vulgo taberna.
TEOTÔNIO vai mal, toda a sorte que ele havia roubado das pessoas se perdera no instante em que o bilhete de ALICE se rompeu; além disso lhe acompanhava uma estranha saudade dela.
Desconhecido e sem conhecidos na cidade, ele vai afogar suas mágoas em um boteco se perguntando se deveria ou não voltar para vê-la.
Lá para as três e tantas da madrugada ele se vê conversando com o mendigo LUNÁTICO que não se conforma com a situação e fala um punhado de verdades para TEOTÔNIO. Embriagado e confuso, o realejeiro se descontrola e entra em luta corporal com o LUNÁTICO, mas acaba estatelado no chão com a cabeça latejando e o teto dando piruetas na sua cara.
Finalmente expulso do bar, todo destrambelhado e arrastando seu realejo, ele toma uma decisão:
“Vou encontrar Alice, nem que tenha que descer ao mundo dos mortos!”
(treta ALICE e AVÔ, ela decide encontrar TEOTÔNIO)
No sertão árido, Alice está sentada em uma pedra, contemplando a encruzilhada à sua frente sem saber para onde ir.
O som de uma viola vem lhe acariciar os ouvidos, vindo não se sabe da onde. Encantada com aquele som que diminui a sua angústia, ela nem se dá conta do VIOLEIRO que vem se aproximando.
Eles começam a conversar e o Violeiro lhe conta muitas estórias; vendo que ele é um homem muito sabido, Alice pergunta que caminho deve tomar.
Ele só consente em, responder caso ela lhe dê algo em troca.
Alice se desculpa dizendo:
“A única coisa que tenho é esse bilhetinho da sorte, mas isso eu não posso te dar.”
O Violeiro, muito esperto, retruca:
“Não tem problema, como gostei de você vou fazer uma concessão. Te indico o caminho certo e você me dá só a sua alma, feito?”
“Feito”
Os dois adormecem e quando Alice acorda, nota que o violeiro se foi, mas deixou a viola como um presente para ela.
Alice caminha por vários dias, e vê muitas coisas até que chega a uma floresta enorme, onde encontra um rio que ela não consegue atravessar.
Uma mulher cavalgando uma canoa se aproxima. É a JANGADEIRA que explica que aquele rio se chama Aqueronte e que pode lhe dar carona se ela lhe der algo em troca.
Alice se desculpa dizendo:
“A única coisa que tenho são essas moedas e meu bilhetinho da sorte, mas isso eu não posso te dar.”
A Jangadeira aceita as moedas e as duas seguem rio abaixo, quando de repente a água do rio se torna vermelha e agitada, tingida pelo sangue dos animais que os homens assassinam nos matadouros.
Depois de muito lutar contra as correntezas, a jangada segue seu rumo.
III ATO
O mundo dos espíritos.
Alice está assustada e tristonha com as coisas que viu ao longo da viagem e na descida do rio Aqueronte, na companhia da misteriosa Jangadeira.
Entre as lágrimas que embaçam sua vista, Alice consegue distinguir a silhueta de uma mulher que lava roupa suja na margem do rio, pouco adiante.
Jangada e Jangadeira deixam Alice em terra e seguem seu caminho enquanto a menina vai à LAVADEIRA e pergunta a ela qual o destino final de sua jornada.
A sábia mulher retruca dizendo que só dirá se Alice lhe der algo em troca.
“A única coisa que tenho é esse bilhetinho da sorte e isso eu não posso te dar, mas posso cantar uma canção prá você.”
A Lavadeira aceita o trato e Alice se põe a cantar uma melodia.
Aos poucos a Lavadeira se deixa levar bela beleza daquela música e junta sua voz à da menina.
A canção ecoa pelas planícies e montes, trazendo conforto e tranqüilidade ao coração de Alice e de todos aqueles que podem ouví-la.
Até as nuvens do céu se aproximam para escutar melhor e contribuem com raios e trovões à cantoria.
Mais além, na margem oposta daquele mesmo rio, Teotônio se prostra exausto na areia e vê a forte tempestade que se anuncia no céu. Cansado demais para procurar abrigo, ele espera a chegada da chuva resignado quando percebe um ANJO que se aproxima dele trazendo consolo e palavras reconfortantes.
O dois adormecem e sonham na areia, protegidos da tempestade por uma brisa mágica que paira sobre eles aparando as gotas da chuva.
Ao acordar de um longo sono que pareceu durar séculos, Teotônio se vê ainda na areia, mas na outra margem do rio Aqueronte, e de lá consegue escutar a voz e o canto de Alice, que atrai todos os seres da floresta com sua melodia.
O Realejeiro segue aquele som e se depara com uma grande festa, onde todos comemoram a chegada da chuva que apagou o incêndio nas matas, limpou a água do rio e a alma dos homens.
Todos os habitantes da selva cantam e dançam, convidando Teotônio para se unir à celebração. Ele então tenta tocar seu realejo, mas o PASSARIN, triste por viver sempre preso, já não pode mais cantar.
Percebendo isso Teotônio escancara a gaiola e une sua voz à do pássaro, que agora entoa sua cantiga como nunca.
Depois de muito celebrarem com os seres da floresta, Teotônio, Alice e a Lavadeira assistem à alvorada de um novo dia.
De tanto contentamento por reencontrar Teotônio, Alice se esquecera de cobrar da Lavadeira sua promessa de contar aonde terminaria seu caminho, mas a velha sábia manteve sua palavra e abriu um largo sorriso dizendo:
“Não importa para onde você está indo, pois todos vão ao mesmo lugar. Um lugar aonde só as virtudes mais preciosas tem valor verdadeiro. O mais importante não é o destino, mas a maneira pela qual você percorre sua travessia.”